Faz tempo que Che Guevara deixou de ser somente um ícone da esquerda e um demônio para a direita - até porque esses dois conceitos ideológicos são tão confusos hoje em dia - para se tornar uma estrela pop mercadológica, com a sua mais conhecida foto reproduzida em camisetas, anúncios, e no que mais possa caber. Agora, entretanto, parece que a Mercedes-Benz errou feio ao utilizar a conhecida imagem do líder guerrilheiro argentino-cubano para promover seus automóveis, trocando até a estrela de cinco pontas da sua boina pelo logo da marca. Aliás, toda essa confusão de conceitos e personagens não é gratuita. Ela existe propositalmente para que as pessoas percam o referencial em todas as áreas da vida (individual e coletivamente considerada). Assim como na política, na ideologia e - por que não dizer - também na teologia, elas ficam sem saber como dizer se algo é certo ou errado, daí a profusão de bobagens e heresias que temos que enfrentar todos os dias. E alguém deve estar ganhando muita grana com isso. Confira a notícia do Brasil 247:
Mercedes usurpa imagem de Che e engata recuo
– Para quem conheceu Alberto Korda, o fotógrafo cubano que imortalizou Ernesto Guevara na foto ‘El Guerrillero Heroico’, que muitos consideram a mais reproduzida da história, é fácil saber o que ele faria. Diante da iniciativa da multinacional alemã Mercedes Benz, que, num evento promocional em Las Vegas, teve a ousadia de trocar a estrela original de cinco pontas, vermelha, na boina de Che pela de três pontas, dentro de um círculo, que identifica seus carros de luxo, Korda esfregaria as mãos, tomaria um gole de rum e, entre irado e animado, telefonaria para seu advogado. “Tenho olheiros em todas as partes do mundo”, lembrava Korda, sempre orgulhoso da repercussão de sua foto, mas igualmente atento à cobrança de direitos autorais sobre cada espertalhão que procurava usar a imagem que ele captou em benefício comercial próprio. “Quando descubro que minha foto está sendo usada para fins comerciais sem escrúpulos, como é típico dos capitalistas, não penso duas vezes antes de autorizar meus advogados a entrarem com processos pesados sobre os usurpadores. Muitas vezes, eles mesmos me avisam de processos em curso”.
Dessa, por sorte, a Mercedes escapou. Sem deixar herdeiros, Korda morreu em Paris, de enfarto, em 2001. E, pelo jeito, a campanha que tem como base a usurpação da foto do ícone das esquerdas não será levada adiante. Assim que a iniciativa foi divulgada, os sempre mobilizados exilados cubanos nos Estados Unidos emitiram sinais de forte oposição à troca de sinais na foto de Alberto Korda. O que a Mercedes tentou fazer – transformar El Che num vendedor de carros de luxo, sob o apelo de sua história de revolucionário – simplesmente não colou junto ao público. O rechaço dos cubanos que se sentem americanos certamente viria a ser correspondido de igual afastamento por parte da fatia de público mais identificada com o conjunto de ideais pelos quais Guevara, e o próprio Korda, com seu trabalho de divulgação da imagem do líder revolucionário, lutaram até a morte. Resultado: a campanha recém mostrada em Las Vegas foi arquivada. Para todas as partes envolvidas, melhor assim.
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