quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

SOB O TEMOR DAS ENCHENTES


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 Maria das Neves Bezerra ficou desabrigada em 2008 e desde então, todos os dias, reza para que a cidade não presencie um novo temporal como o que ocorreu há dois anos
Toda vez que a dona-de-casa Maria das Neves Bezerra, de 74 anos, deixa sua residência, na entrada da zona urbana de Ipanguaçu, costuma dar uma olhada para os céus. Não se trata de oração, mas não deixa de ser um ato de fé. A fé de que as nuvens não se transformem em chuvas como as que caíram em 2008 e 2009, na região do Vale do Açu, e que resultaram em inundações dos rios Pataxó e Piranhas-Açu, alagando parte do município, expulsando moradores e destruindo plantações.

O temor é grande e tem fundamento. A Emparn já alertou que o próximo período chuvoso deve ficar acima da média histórica, com possibilidade de enchentes semelhantes às registradas há dois anos. E as obras preventivas de maior porte, que poderiam reduzir os riscos de uma nova tragédia, não saíram do papel, limitando-se a pequenas intervenções de proprietários e da Prefeitura em trechos do Pataxó.

Maria das Neves morou 11 meses na casa de uma filha, até o início de 2009, porque sua residência virou um verdadeiro leito de rio nas chuvas de abril de 2008. As águas atingiram “dois palmos de altura” dentro do imóvel e o piso chegou a ceder aproximadamente 10 centímetros. Paredes racharam e foi preciso uma reforma completa para a família retornar à moradia.

O agricultor Francisco de Assis Lopes, da comunidade de Base Física, também em Ipanguaçu, revela que já há serviços sendo executados, mas nada que impeça novas inundações. “Uns três proprietários fizeram uma limpeza no leito do rio e aí a prefeitura viu que ficou bom e decidiu fazer também em outros trechos, mas se a barragem de Pataxó sangrar com 50 centímetros, acho que já alaga tudo de novo”, teme.

Uma casa, de quatro quartos, teve de ser derrubada em sua propriedade, após as inundações de 2008 e 2009. Desde então, ele aguarda uma ajuda financeira que nunca chegou. “A água alcançou bem um metro de altura e a casa já estava oca por baixo, tivemos de derrubar o resto”, revela. No seu entender, é necessária um amplo serviço no rio Pataxó para evitar novas enchentes.

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