A iraniana Ameneh Bahrami luta na Justiça de seu país para que o homem que desfigurou seu rosto com ácido seja cegado, pedindo a aplicação da sharia (lei islâmica).
Ameneh foi atacada por Majid Movahedi, um homem que havia pedido sua mão em casamento e sido rejeitado, em 2004.
Em 2008, Movahedi foi condenado a ser cegado, mas a pena não foi executada.
Organizações
de defesa dos direitos humanos protestam contra a sentença, mas Ameneh
insiste que seu caso pode servir de exemplo para outros criminosos.
Pedido recusado
Em 2004, quando foi atacada, Ameneh tinha 24 anos, e era estudante de engenharia.
“Eu
era uma mulher muito bonita. Muitos rapazes – até professores
universitários – vinham à minha casa pedir minha mão” lembrou ela no
programa Outlook, do Serviço Mundial da BBC.
Ameneh
diz que não conhecia Movahedi até que a mãe dele ligou para sua
família, pedindo sua mão. Quando ela recusou, o rapaz passou a
ameaçá-la de morte por telefone. Ela procurou a polícia, que disse não
ser possível fazer nada.
“Ele disse:”Eu vou destruir sua vida e fazer algo para que ninguém se case com você”, contou Ameneh.
A
iraniana conta que foi perseguida por Movahedi um dia após sair do
trabalho. Ela diz ter quando o rapaz atirou ácido em seu rosto, ela
chegou a pensar que fosse água quente.
“Depois senti uma queimação e percebi que era ácido”, contou.
A estudante perdeu a visão no olho esquerdo logo após chegar ao hospital, e, uma semana após o ataque, a do olho direito.
Ela
chegou a receber ajuda do governo do então presidente Mohammad Khatami
e viajar para Barcelona para um tratamento. Mas com a vitória de
Mahmoud Ahmadinejad em 2005, o auxílio financeiro parou de chegar. Sem
dinheiro, ela foi levada a um abrigo de mulheres sem teto, onde contraiu
uma infecção no seu olho direito, que começava a se recuperar.
Vingança Ameneh levou o caso à Justiça, pedindo que ele fosse cegado.
“Eu
fui ao tribunal e disse: `Eu quero vingança´. Eles disseram: `Não
podemos fazer isso. Peça um enforcamento, é mais fácil para nós´”,
contou.
A
iraniana esperava que se aplicasse a chamada justiça retributiva – que
considera moralmente aceitável punir o criminoso de forma semelhante
ao crime que ele cometeu, mas a aplicação do princípio é rara no país.
Bahrami
ganhou a causa em 2008, quando o tribunal sentenciou Movahedi, então
com 27 anos, a ser cegado com ácido, cumprir pena na cadeia e pagar uma
indenização à mulher. Segundo ela, a sentença chegou a ser marcada
para o dia 14 do último mês de maio, após anos de adiamentos. Mas as
autoridades iranianas continuam hesitantes e a pena não foi aplicada.
Organizações de defesa dos direitos humanos pedem que a pena seja anulada.
“Apesar
do crime horrível sofrido por Ameneh Bahrami, ser queimado com ácido é
uma punição cruel e desumana equivalente à tortura”, diz Hassiba Hadj
Sahraoui, diretor do programa de Oriente Médio e norte da África da
Anistia Internacional.
Movahedi permanece na prisão aguardando o cumprimento de sua pena.
Ameneh
conseguiu financiamento de uma organização americana e voltou a
Barcelona para passar por cirurgias de reconstrução facial.
Ela
diz não ter desistido da retribuição. “Se eu perdoar, não ganho nada.
Também não ganho com a perda da visão dele, mas quero que pessoas como
Majid saibam que há punição”, afirma.
Fonte: BBC Brasil
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