quinta-feira, 27 de setembro de 2012

DE NORDESTINO PARA NORDESTINOS

PROFESSOR DA FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS SOCIAIS DA UNIVERDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE - CONTEXTUALIZA TRABALHO POÉTICO DE ARTISTA CARNAUBAENSE QUE SERÁ LANÇADO EM SÃO PAULO.

Levas de retirantes saídas do sofrido nordeste brasileiro, com ênfase à sua porção semiárida, retratam o êxodo histórico que assinala de forma proeminente a busca pela sobrevivência encetada pelas populações desprezadas dos recônditos distantes de uma região que já foi rica e hoje empobrecida e abandonada ainda sofre com flagelos seculares que apenas atestam a forma mesquinha como está condicionada a reprodução das estruturas de poder, cuja manutenção do status quo é condição sine qua non para que uma pequena porção privilegiada desfrute de um complexo processo de construção coletiva, de cuja maioria que a implementa ainda se encontra distante de usufruir democraticamente das conquistas efetivadas através do trabalho árduo de um povo batalhador, humilde e honesto.

"Ano de 69
Na Vila Leopoldina
O marco da Ceagesp
Na Amérina Latina
Sente a força do braço
Do sertanejo de aço
Das terras de Teresina.

O Sonho dos Piauís é o de todo nordestino que sai de sua terra natal em busca de melhores condições de vida, fato constatado brilhantemente pelo músico/poeta e entusiasta da cultura popular nordestina Zelito Coringa, pois sonho acalentado coletivamente, revela a têmpera de aço de uma gente forte e irresoluta que não foge à luta em prol da construção do país, embora o reconhecimento ainda não esteja à altura do esforço desmedido que marca a saga dos deserdados da terra do sol pelas plagas distantes localizadas bem além do querido torrão natal.

No repente que nos fala
Da cultura de origem
Do verde da mata virgem
Da viola que embala
A canção que virou hino
É o que traz dentro da mala
O poeta nordestino."

Melhoria das condições de vida é privilégio de poucos nordestinos que se aventuram nas incertezas da migração em direção aos espaços mais privilegiados do circuito econômico nacional. A maioria, em razão da pouca qualificação laborial, vai executar trabalhos penosos que castigam o físico de qualquer ser humano, não obstante a bravura indômita dessa gente queira ser mais heróica, bem mais forte do que os desafios e as provações que o destino vem enfatizando ao longo desse intrigante elemento da dinâmica populacional brasileira, marcado pela ausência de verdadeiros compromissos dos setores públicos e privados que poderiam se responsabilizar pela consolidação de melhores dias para o nordestino que sai de sua terra natal e vai dar suor, sangue e lágrimas na formação da riqueza que apenas alguns, privilegiados pelo sistema, são contemplados de forma significativa.

(*) José Romero Araújo Cardoso. Geógrafo. Professor-adjunto do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte.

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