terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Investigação descobre como facção de SP vende drogas no Nordeste

Gravações mostram conversas de presos sobre crimes em SP, RN e PR.

Investigação descobre como facção de SP vende drogas no Nordeste



Em operação de 10 meses do MP e PRF, foram decretadas 223 prisões.Uma investigação da Polícia Rodoviária Federal (PRF) com o Ministério Público descobriu como as ações da quadrilha que age dentro e fora dos presídios do estado de São Paulo se ramificam por todo o país, em especial no Nordeste, e se espalham pela América do Sul, de acordo com reportagem do "Fantástico" exibida neste domingo (7).

Durante dez meses, policiais acompanharam conversas telefônicas entre presos de diversas cadeias do Brasil planejando negócios e conseguiram mapear as rodovias e cidades por onde ocorre o tráfico de drogas antes de ser distribuída em diversos estados.  A investigação do MP mostrou também que a facção passava quase que diariamente orientações para os criminosos do Nordeste.
A operação começou no Rio Grande do Norte, onde a quadrilha atua desde 2010, e chegou a São Paulo, Paraná e Paraíba. Ao todo, foram decretadas 223 prisões: 154 criminosos já estavam na cadeia e receberam voz de prisão dentro da própria cela.
Segundo o superintendente da PF no Rio Grande do Norte, Marcelo Montenegro, a droga em do Paraguai, passando pelos estados de Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e chega na Bahia, de onde é distribuída para outros estados do Nordeste. "Também há uma rota que passa por São Paulo", diz Montenegro.
Durante a investigação foram apreendidas quase 20 toneladas de droga. “Nós temos aí 75 flagrantes nesses últimos 10 anos, produzidos a partir das informações do Ministério Público”, diz o superintendente da PF.
Gravações telefônicas e imagens ajudaram a polícia a identificar os líderes da facção. Um deles é Robson Batista Marinho, um empresário de Natal que comprava a droga em São Paulo e revendia no Nordeste, segundo a investigação. Em uma conversa gravada, ele fala com um rapaz que traz a droga de São Paulo de ônibus, que foi parado pela polícia. Com o suspeito foram encontrados 70 kg de maconha e cocaína.
Marinho não suspeitava que era monitorado há alguns meses e que, por isso, não conseguia receber a droga. Ele foi preso na última terça-feira (2). Questionado sobre seu envolvimento com a facção no momento da prisão, ele não respondeu.
A negociação esbarra em um problema já identificado pelas autoridades, mas ainda sem solução. “Dentro do presídio, com o telefone celular, eles controlam tudo. E, incrível, o telefone celular entra dentro. Se o Estado infelizmente não tem a vontade de enfrentar o crime organizado, resulta nisso aí”, diz o juiz da Vara de Execução Penal Henrique Baltazar.
“Isso é um problema de estrutura que existe quase em todas as unidades prisionais de nosso país. No Rio Grande do Norte não é diferente. Há uma necessidade de equipamentos nessas unidades prisionais. E, paralelamente, há uma política no país de que as operadoras de celular sejam obrigadas a bloquear os sinais de celular nesses espaços onde existem os sistemas prisionais”, diz o secretário de Estado da Justiça e Cidadania, Júlio César de Queiroz Costa.
Teleconferências do crime
O Ministério Público identificou seis presídios de onde os presos falavam sobre o comércio da droga para o Nordeste: dois eram no Rio Grande do Norte e outros dois, no Paraná, nas cidades de São José dos Pinhais, Piraquara e Uraí.
Em uma das conversas interceptadas, os presos discutem o batismo de um novo membro da facção e o preso que está ingressando tem que aceitar as regras. “Pessoas do Rio Grande do Norte, Paraná e Paraíba conferencionando, conversando entre si, programando crimes, organizando crimes e fazendo relatórios. É uma reunião presencial”, diz o juiz Henrique Baltazar.
As reuniões também eram feitas por mensagens de celular. Em uma conversa, um preso pede atendimento médico para um suspeito baleado fora da cadeia e avisa que chegará até “Marcola” se for preciso. Marcola é Marco Willians Herbas Camacho, apontado como chefe da quadrilha e que está preso em São Paulo.
“O membro do grupo sabe que, quando é preso, tem um médico particular para atende-lo. Faz parte do marketing, você está pagando aquela cooperativa”, diz o juiz Henrique Baltazar.
A investigação mostra que a estrutura ultrapassa as fronteiras do país, apontam as gravações. Em uma das conversas, presos falam sobre ações no Chile, na Bolívia e no Paraguai. “É uma organização criminosa a nível nacional. Se as secretarias de todo o país não se unem para combater esses grupos criminosos, isso é difícil funcionar”, acredita o juiz Baltazar.

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